sexta-feira, 14 de setembro de 2012

E se o euro acabar?




       O colapso da moeda única europeia poderia deixar gregos sob ditadura, espanhóis enfrentando barreiras mais duras para viajar do que as hoje impostas a latino-americanos, e a Alemanha liderando um pequeno bloco de países mais ricos, enquanto boa parte da Europa patinaria no caos. Seria, acima de tudo, o fim da União Europeia tal como a conhecemos, com seus membros separados e hostis a quaisquer projetos comuns.


       Esse cenário ainda é improvável, mas passou a ser possível. E a explicação tem traços de um conto moral. A adesão ao euro deu uma moeda mais valorizada que o dólar a países periféricos- os chamados Piigs (acrônimo inglês de Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). Ou seja, esses países ficaram mais caros, e produtos importados, mais baratos. Qual o lado bom? O empréstimo para esses países teriam taxas mais baixas. E então os Piigs começaram sua fantasia de país rico- até a crise de 2008, quando se viu que o milagre de alguns tinha muito de conto de fadas (ou do vigário).

       É que “riqueza” significa capacidade de produção. O euro é valorizado porque você compra com ele produtos cobiçados, como carros da Mercedes e aviões da Airbus. Esse não seria o caso dos Piigs, caso eles adotassem moeda própria.
      Em situação intermediária ficariam países como França, Áustria e Bélgica, com grandes dívidas, mas economias ainda competitivas. Com a volta de suas moedas nacionais, essas economias ficariam empobrecidas, mas poderiam passar a exportar mais desvalorizando o câmbio.

        Já os alemães cresceram e economizaram, advertindo seus irmãos perdulários. Ao mesmo tempo, empréstimos alemães garantiram que países como a Grécia comprassem seus produtos. No caso de um colapso do euro, alemães poderiam reinstituir o marco, agregando em torno de si países próximos, como Dinamarca e Finlândia, numa união monetária do norte, isolando-se e sofrendo os calotes em seus empréstimos.
       Misturando as histórias, a moral desse conto poderia ser; grandes poderes (de compra) deveriam trazer grandes responsabilidades.




Fonte: Revista Super Interessante (Edição Especial de Agosto de 2012)

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